Entre idas e vindas, os quatro maiores investimentos para o Ceará ainda não saíram do papel
Os grandes projetos de investimentos para o Ceará, alardeados pelos governos estaduais, e aguardados com expectativa pela população cearense, foram gestados há muito tempo. Alguns, como é o caso da refinaria de petróleo e da siderúrgica, pensados ainda no governo Virgílio Távora, na década de 60. Quarenta anos depois, o Ceará ainda tem essas obras como uma meta a ser atingida, com sucessivas recusas e adiamentos, ou seja, sem efetivação prática. O discurso desenvolvimentista, no entanto, continua o mesmo de tempos atrás.
A gestação de grandes projetos foi feita no primeiro governo Virgílio Távora quando, de forma pioneira no Nordeste, foi elaborado um plano de gestão, que previa refinaria e siderúrgica em uma visão de se gerar dois grandes pólos industriais: um petroquímico e outro metalmecânico, impulsionados pela refinaria e pela siderúrgica, respectivamente.
Pouco depois, na década de 70, no governo César Cals, a exploração da jazida de Itataia começou a ser pensada e, por último, no fim da década de 80, as Zonas de Processamentos de Exportações (ZPEs). Até mesmo a usina de Itataia, que já teve licitação realizada e os convênios fechados pelo governo Cid para a sua exploração, e também os demais megainvestimentos, pensados há vários governos, permanecem da mesma forma: na intenção de prioridade, mas ainda longe de uma efetivação.
´No governo Virgílio Távora começou a gestação da refinaria. Foi instalado, lá no Porto do Mucuripe, uma unidade da Petrobras. O sentimento era de evoluir aquilo para uma refinaria, mas não prosperou´, informou o ex-secretário de planejamento do governo Tasso Jereissati, Cláudio Ferreira Lima, explicitando a primeira tentativa frustrada de trazer a refinaria da Petrobras para solo cearense, décadas atrás.
Tasso Jereissati, Ciro Gomes, Lúcio Alcântara e Cid Gomes, em 23 anos de governo mantiveram a intenção e o discurso de que os projetos seriam realizados, mas até o fim do mandato de Cid Gomes, em 2010, os investimentos não estarão concretizados, ainda. A previsão é feita pelo superintendente do Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste (Etene), José Sidrião Alencar. Segundo ele, projetos como a refinaria e a siderúrgica ainda terão pelo menos dez anos pela frente para começarem a beneficiar a população cearense, caso sejam efetivados.
Efetivação
Sidrião pondera, no entanto, que hoje a possibilidade de concretização é bem maior porque certas dificuldades de antes, não existem mais hoje. ´Para a exploração de Itataia, quando começou a se pensar, tinha que ter um grande porto e outra forma de escoamento. Hoje, o Pecém e a Transnordestina resolveram isto´, exemplifica ele, incluindo a integração das bacias hidrográficas e a transposição de águas do Rio São Francisco, como forma de suprir as demandas de água destes investimentos maiores.
O passo inicial, no entanto, conforme destacou, foi a construção do complexo portuário do Pecém, idéia também defendida por Cláudio Ferreira Lima, ex-secretário de Planejamento do governo Tasso Jereissati. O segundo governo de Tasso, do qual participou, elaborou um plano que incluía a construção do complexo portuário do Pecém. ´Houve a elaboração de um plano para longo prazo, com a criação de um complexo industrial portuário que pudesse aglutinar em torno de si estes grandes projetos´.
A siderúrgica, apesar de já ter sido alardeada no governo Tasso, teve impulso maior na gestão Ciro Gomes, em 1992, quando o governo tentou iniciar os contatos e planejar um local para o investimento. ´No início, pensou no Mucuripe e até em Sobral, para viabilizar o empreendimento, mas isso não foi possível´, explicou Cláudio.
José Sidrião chama atenção para o fato de não haver muitas modificações nos projetos ao longo do tempo. ´Não vejo mudanças substanciais em relação àquelas primeiras propostas. Houve avanços, mas sempre dentro da mesma lógica´, enfatiza. Mas as explicações para os atrasos também são sempre as mesmas: o problema das parcerias, a força política e o cenário econômico .
Justificativas
A análise dos especialistas deixa claro o problema. Para Pedro Jorge, coordenador do núcleo de economia e estatística da Federação das Indústrias do Ceará (Fiec), a falta de parceria foi o maior problema para a siderúrgica, enquanto a refinaria não saiu por falta de força política. ´Na verdade, não depende só do Governo do Estado. Eu lembro que no governo Tasso, a parceria com uma empresa alemã chegou a ser anunciada, foi lançado todo um plano de trabalho, mas não se concretizou´, afirmou, sobre a siderúrgica, completando: ´para a refinaria foi força política mesmo que faltou´.
Quando questionado isto, Cláudio Ferreira disse: ´tem que se considerar o ambiente de negócios que, uma parte é do Governo, outra parte é da iniciativa privada. É uma série de fatores´, alega, no mesmo sentido. Sidrião completa as justificativas com o fato de as regiões Sul e Sudeste do País serem as mais beneficiadas com os investimentos de grande porte. ´A obra do rodoanel, em São Paulo, custou mais do que o projeto da transposição e da transnordestina juntos, para se ter uma idéia´.
Novo prazo
Hoje, no governo Cid Gomes, a avaliação de que os projetos serão iniciados continua. O diretor da Agência de Desenvolvimento Econômico do Ceará (Adece), Eduardo Diogo, destaca, sobre a siderúrgica, que as condições para o início da obra estarão prontas até 2010. ´As condições para que a usina seja instalada estarão prontas até o ano que vem com regularização de terreno até a terraplanagem do local. É a conclusão da fase inicial´, informa, garantindo que agora os investimentos sairão do papel.
Avaliação semelhante faz com relação à refinaria de petróleo, às ZPEs e à usina de exploração de urânio de Itataia. ´A Petrobras pretende investir R$ 52 bilhões na refinaria. É um plano sustentável e nós entendemos que foi acertada a decisão de as empresas manterem os investimentos´.
Segundo ele, o Ceará é um dos mais preparados estados para receber uma ZPE, porém isso ainda depende da criação de um conselho pelo Governo Federal, depois da aprovação da legislação no Congresso Nacional. O discurso, porém, é o mesmo quanto ao potencial para receber a refinaria de petróleo que acabou indo para Pernambuco, recentemente.
FIQUE POR DENTRO
Exploração de urânio pode começar em 2012
O Governo do Estado fechou convênio, no ano passado, para a exploração de fosfato e urânio na mina de Itataia, em Santa Quitéria. O projeto, pensado há 33 anos, começará a ser executado em 2012 e está avaliado em US$ 375 milhões. O objetivo é utilizar o urânio para gerar energia nas usinas nucleares e o fosfato visando à produção de fertilizantes para a agricultura. O investimento é o que está mais avançado.
IMAGENS DOS GRANDES PROJETOS
Terreno destinado à usina Ceara Steel
Expectativa frustrada: o governo Lúcio Alcântara chegou a anunciar a usina siderúrgica Ceara Steel, em 2005. Apesar da festa do lançamento e do anúncio da parceira com a iniciativa privada, a única coisa que restou foi o grande terreno vazio, onde chegaram a ser iniciados alguns estudos, mas que, mais uma vez, frustrou as expectativas. O governo Cid tenta retomar a parceria com outros investidores
Reserva de urânio e fosfato em Santa Quitéria
Parceria firmada: a entrada da mina de Itataia onde, a partir de 2012, um consórcio de empresas começará a exploração que renderá até US$ 525 milhões ao Ceará
Governador Cid e presidente Lula no Pecém
Esperança: em agosto de 2008, o presidente da Petrobras, Sérgio Gabrielli, reafirma o compromisso com a refinaria e afirma que o estudo de viabilização da obra está avançado. Mais uma expectativa para o Ceará
O QUE ELES PENSAM
Especialistas comentam o atraso
“As dificuldades de antes eram bem maiores para os investimentos. Tinha que se pensar um grande porto e outras formas de escoamento, que estão solucionadas hoje com o Pecém e a Transnordestina, que já é uma realidade. Assim, se torna mais viável a atração dos investimentos”
José Sidrião Alencar
Superintendente do Etene
“Tem que se considerar todo um ambiente de negócios que, uma parte é do governo, a outra é da iniciativa privada. Não dá para fazer estes investimentos sozinho. É uma série de fatores que influencia a atração dos empreendimentos como a crise econômica de agora, por exemplo”
Cláudio Ferreira Lima
Ex-secretário de Planejamento
“Na verdade não depende só do Estado. Eu lembro que para a siderúrgica, o governo Tasso Jereissati chegou a anunciar a parceria com uma empresa alemã, o plano de trabalho foi apresentado, tudo com detalhes, mas não se efetivou na prática”
Pedro Jorge Viana
Coordenador de estatística da Fiec
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