Especialistas defendem a inclusão dos casarões do bairro Jacarecanga nos roteiros turísticos de Fortaleza
Ele tem 163 anos de idade e guarda a história de um período áureo de Fortaleza intrincada nas pedras e tijolos que dão forma aos casarões e palacetes. No bairro Jacarecanga, o tempo ainda não destruiu a memória, apesar do abandono de um patrimônio arquitetônico que provoca nostalgia em quem nem mesmo viveu essa época.
Mesmo depois de mais de 60 anos - quando a elite deixou o bairro - o Jacarecanga ainda tem um ar de nobreza. Para os moradores, não há imagens de decadência, mas lembranças; a riqueza econômica pode até ter se mudado de lá, mas a história permaneceu e é isso o que importa para a população. É por essa história que o despachante Mairton Viana passa todos os dias quando vai deixar a filha no colégio do Corpo de Bombeiros Militar do Ceará.
“Acho muito importante a arquitetura dos casarões antigos e muitos deles estão sendo demolidos e reformados sem qualquer cuidado para preservar essa história”, afirma. Mesmo não morando no bairro, Viana sente nostalgia ao passar pela região. Os casarões o fazem imaginar uma cidade antiga, a qual ele não teve acesso, mas que poderia ser reconstruída se o patrimônio material dessa época fosse preservado.
De acordo com a Constituição Federal, o patrimônio cultural do Brasil é a história, o artesanato, a culinária, as manifestações populares e também as edificações. Conforme o historiador e professor do Centro Federal de Educação Tecnológica (Cefet-CE), Marcius Tulius Soares Falcão, o patrimônio edificado de uma cidade tem uma importância por ser um lugar de memória. “Ele foi palco de relações sociais que decorreram no passado e construíram o que somos hoje”, explica.
A vila construída pelo industrial Philomeno Gomes é um bom exemplo de representação da estrutura social da Fortaleza dos anos de 1930, quando os empregados da indústria que recebiam melhores salários moravam nos sobrados e os trabalhadores mais humildes habitavam casas menores, mas próximas aos casarões. “Com essas construções podemos ver o conflito social e a representação da divisão econômica da sociedade”, observa Marcius Tulius, mestre em Políticas Públicas do Turismo.
Esse patrimônio continua de pé, mas não se sabe por quanto tempo ele continuará lá. Recuperação é o que muitas pessoas que ainda moram no bairro estão fazendo. Na Rua Othon de Alencar, há vários palacetes que ainda permanecem de pé. A estrutura original é a mesma, mas a ação do tempo é visível. A rua que fica na lateral da praça do Liceu - outro marco do bairro - é marcada por prédios em que predomina a Art Nouveau. “São verdadeiras réplicas de apartamentos de Paris e isso mostra o que era nossa sociedade”, conta o professor.
A pintura desgastada, por fora, é o menor dano. No térreo, eles abrigam empreendimentos, como lanchonetes e comércios, alguns ainda são habitados nos andares superiores, mas o desgaste é notório. As fachadas servem até para colocar publicidade. Na Avenida Francisco Sá, também é grande o número de casarões em estado de abandono.
PRESERVAÇÃO
Responsabilidade da sociedade
A preservação e recuperação dos prédios do bairro Jacarecanga têm conseqüências históricas, sociais, artísticas e turísticas também. “Esse patrimônio tem toda uma simbologia”, frisa Marcius Tulius Soares Falcão. Para o professor, a valorização desse patrimônio edificado é responsabilidade não só do Governo, mas da própria sociedade, que não se interessa por sua história local e acaba perdendo o vínculo que os monumentos e edificações históricas podem provocar. “Ainda é fraca a promoção do valor cultural em nosso Estado”, conclui.
Mas há aqueles que foram reformados e recuperados, apesar de terem recebido acréscimos em sua estrutura que desconfiguraram um pouco o estilo arquitetônico predominante no bairro.
É o que possivelmente irá acontecer com o casarão do aposentado Francinere Lopes, de 67 anos. Há nove meses ele mora em um sobrado que pertencia ao industrial Philomeno Gomes. “Ganhei essa casa da minha tia. Ela comprou por R$ 100 mil e já gastei outros R$ 50 mil para recuperar, mas ainda há muita coisa a ser feita”.
Residente em Caucaia, ele se sente privilegiado por morar nas proximidades do Centro de Fortaleza, em uma área que já foi habitada pela elite.
Marcius Tulius acredita que é preciso começar a trabalhar essa consciência histórica e cultural ainda nas escolas. No entanto, acrescenta ele, é necessário ainda que os órgãos ligados à cultura planejem a preservação e uso desse patrimônio, para que ele não caia no esquecimento ou desapareça por completo.
“Temos que criar uma visão de que a cultura é produzida na história. Se isso ocorrer, a valorização desse patrimônio vai acontecer também”, afirma. Por outro lado, ele observa que os empresários do turismo precisam despertar para a valorização desses pequenos sítios históricos, como é o caso do bairro Jacarecanga. A inclusão desses monumentos nos roteiros turísticos é essencial, mas para que ela aconteça eles precisam estar recuperados.
“O turismo é a troca de culturas e valores culturais, mas o grande problema é que o receptivo não faz um city tour histórico”, observa. Além do encontro com a memória, os edifícios históricos podem contribuir com uma lição de cidadania para os fortalezenses. “Nós mesmos não respeitamos esse patrimônio e temos que começar pelas escolas”.
Mesmo depois de mais de 60 anos - quando a elite deixou o bairro - o Jacarecanga ainda tem um ar de nobreza. Para os moradores, não há imagens de decadência, mas lembranças; a riqueza econômica pode até ter se mudado de lá, mas a história permaneceu e é isso o que importa para a população. É por essa história que o despachante Mairton Viana passa todos os dias quando vai deixar a filha no colégio do Corpo de Bombeiros Militar do Ceará.
“Acho muito importante a arquitetura dos casarões antigos e muitos deles estão sendo demolidos e reformados sem qualquer cuidado para preservar essa história”, afirma. Mesmo não morando no bairro, Viana sente nostalgia ao passar pela região. Os casarões o fazem imaginar uma cidade antiga, a qual ele não teve acesso, mas que poderia ser reconstruída se o patrimônio material dessa época fosse preservado.
De acordo com a Constituição Federal, o patrimônio cultural do Brasil é a história, o artesanato, a culinária, as manifestações populares e também as edificações. Conforme o historiador e professor do Centro Federal de Educação Tecnológica (Cefet-CE), Marcius Tulius Soares Falcão, o patrimônio edificado de uma cidade tem uma importância por ser um lugar de memória. “Ele foi palco de relações sociais que decorreram no passado e construíram o que somos hoje”, explica.
A vila construída pelo industrial Philomeno Gomes é um bom exemplo de representação da estrutura social da Fortaleza dos anos de 1930, quando os empregados da indústria que recebiam melhores salários moravam nos sobrados e os trabalhadores mais humildes habitavam casas menores, mas próximas aos casarões. “Com essas construções podemos ver o conflito social e a representação da divisão econômica da sociedade”, observa Marcius Tulius, mestre em Políticas Públicas do Turismo.
Esse patrimônio continua de pé, mas não se sabe por quanto tempo ele continuará lá. Recuperação é o que muitas pessoas que ainda moram no bairro estão fazendo. Na Rua Othon de Alencar, há vários palacetes que ainda permanecem de pé. A estrutura original é a mesma, mas a ação do tempo é visível. A rua que fica na lateral da praça do Liceu - outro marco do bairro - é marcada por prédios em que predomina a Art Nouveau. “São verdadeiras réplicas de apartamentos de Paris e isso mostra o que era nossa sociedade”, conta o professor.
A pintura desgastada, por fora, é o menor dano. No térreo, eles abrigam empreendimentos, como lanchonetes e comércios, alguns ainda são habitados nos andares superiores, mas o desgaste é notório. As fachadas servem até para colocar publicidade. Na Avenida Francisco Sá, também é grande o número de casarões em estado de abandono.
PRESERVAÇÃO
Responsabilidade da sociedade
A preservação e recuperação dos prédios do bairro Jacarecanga têm conseqüências históricas, sociais, artísticas e turísticas também. “Esse patrimônio tem toda uma simbologia”, frisa Marcius Tulius Soares Falcão. Para o professor, a valorização desse patrimônio edificado é responsabilidade não só do Governo, mas da própria sociedade, que não se interessa por sua história local e acaba perdendo o vínculo que os monumentos e edificações históricas podem provocar. “Ainda é fraca a promoção do valor cultural em nosso Estado”, conclui.
Mas há aqueles que foram reformados e recuperados, apesar de terem recebido acréscimos em sua estrutura que desconfiguraram um pouco o estilo arquitetônico predominante no bairro.
É o que possivelmente irá acontecer com o casarão do aposentado Francinere Lopes, de 67 anos. Há nove meses ele mora em um sobrado que pertencia ao industrial Philomeno Gomes. “Ganhei essa casa da minha tia. Ela comprou por R$ 100 mil e já gastei outros R$ 50 mil para recuperar, mas ainda há muita coisa a ser feita”.
Residente em Caucaia, ele se sente privilegiado por morar nas proximidades do Centro de Fortaleza, em uma área que já foi habitada pela elite.
Marcius Tulius acredita que é preciso começar a trabalhar essa consciência histórica e cultural ainda nas escolas. No entanto, acrescenta ele, é necessário ainda que os órgãos ligados à cultura planejem a preservação e uso desse patrimônio, para que ele não caia no esquecimento ou desapareça por completo.
“Temos que criar uma visão de que a cultura é produzida na história. Se isso ocorrer, a valorização desse patrimônio vai acontecer também”, afirma. Por outro lado, ele observa que os empresários do turismo precisam despertar para a valorização desses pequenos sítios históricos, como é o caso do bairro Jacarecanga. A inclusão desses monumentos nos roteiros turísticos é essencial, mas para que ela aconteça eles precisam estar recuperados.
“O turismo é a troca de culturas e valores culturais, mas o grande problema é que o receptivo não faz um city tour histórico”, observa. Além do encontro com a memória, os edifícios históricos podem contribuir com uma lição de cidadania para os fortalezenses. “Nós mesmos não respeitamos esse patrimônio e temos que começar pelas escolas”.
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