A perda de 5.759 vagas em dezembro não impediu que o Ceará batesse seu recorde na geração de empregos formais em 2008. Foram 41.441 carteiras assinadas entre janeiro e dezembro, de acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgado ontem pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). O resultado representa uma expansão de 5,97% no estoque de assalariados com carteira assinada no Estado.
A projeção inicial era maior: cerca de 10%, segundo Erle Mesquita, coordenador de Estudos e Análise do Mercado do Sistema Nacional do Emprego no Ceará/Instituto de Desenvolvimento do Trabalho (Sine/IDT). Em dezembro, tradicionalmente há queda no nível de emprego por razões sazonais — entressafra agrícola, férias escolares, período de chuvas e esgotamento da bolha de consumo do fim do ano. Em toda a série histórica do Caged, iniciada em 1998, somente em 2002 o Ceará registrou saldo positivo nesse mês.
Ano passado, além dos elementos sazonais, um fator conjuntural: a crise financeira internacional, que atingiu setores como a construção civil, que perdeu 2.665 vagas no mês passado, e segmentos da indústria de transformação. Foi o pior dezembro da série histórica. ´A indústria teve uma retração de 50% na contratação, puxada principalmente pela calçadista, que é muito dependente do mercado externo, não só no Ceará. Ela já fechou 8 mil vagas no País no ano´, comenta Mesquita. Sobral, que possui um grande parque calçadista, perdeu 1.265 vagas no total.
Por outro lado, setores muito aquecidos no mercado interno conseguiram manter um bom desempenho em dezembro. Caso do comércio, que abriu 2.242 vagas, e os serviços, com 903 novos postos. ´Nem todos perdem com a crise. Os serviços foram muito favorecidos pelo turismo interno. Percebemos um aumento de demanda, tanto pelo Caged, quanto no Sine/IDT, para vagas em hotéis e restaurantes´, diz Mesquita.
Além de sobreviverem à dezembro, esses dois setores tiveram os maiores desempenhos, em números absolutos, no decorrer de 2008. Comércio e serviços fecharam o ano com saldos positivos de, respectivamente, 11.673 e 16.273 empregos com carteira assinada. Embora tenha fechado 5.052 postos de trabalho em dezembro, em função também de férias coletivas, a indústria de transformação teve um saldo positivo de 6.716 vagas em 2008. A agropecuária fechou o ano com 1.311 novos postos, mas em dezembro, entressafra de várias culturas, perdeu 1.080 vagas.
A construção civil também sofreu retração em dezembro, com 2.665 empregos a menos, mas fechou o ano com expansão de 3.344 postos de trabalho. Na opinião do coordenador do Sine/IDT, o setor foi um dos que mais sofreram o impacto da crise internacional, após anos de crescimento acelerado pela oferta de crédito no mercado. ´Além disso, há os funcionários que foram dispensados após a entrega de empreendimentos iniciados há dois, três anos atrás´, completa.
Expectativas para 2009
Erle Mesquita admite que, diante do atual cenário macroeconômico, é difícil fazer projeções para 2009. ´São vários fatores que contribuem para o mercado de trabalho. Um deles, por exemplo, é a vontade política. Mas no ano passado houve vontade política dos governos e ainda assim as contratações diminuíram no fim do ano´, argumenta.
A flexibilização da legislação trabalhista, proposta por parte do empresariado, não é uma saída para minimizar os efeitos da crise financeira, em sua opinião. ´É um tiro no pé, o lado do trabalhador é prejudicado. Grandes nações já estão percebendo as limitações do liberalismo e que deve haver uma colaboração tripartite: governo, trabalhador e empresa´, diz.
Para ele, a melhor solução é a manutenção do crescimento da economia, que ´se não criar [empregos], pelo menos mantém´, dando continuidade a um círculo vicioso. ´Se considerarmos uma média de um salário mínimo por emprego gerado, há um aumento de quase R$ 20 milhões na massa salarial do Estado, que se reverte no mercado interno´.
Sem crédito, o ritmo das obras é menor
ROBERTO SÉRGIO FERREIRA
Presidente do Sinduscon-CE
Vimos um aquecimento no setor da construção civil até agosto, quando começou a diminuir o ritmo. Os bancos sentiram o efeito efeito da crise e limitaram o crédito. Sem dinheiro, não conseguimos giro, apesar do grande volume de obras. A gente não parou, mas teve que diminuir o ritmo ou manter menos gente para tocar as obras. Em agosto, tivemos o nosso pico, com 29 mil trabalhadores. Esperamos para janeiro, fevereiro e agosto uma queda, mas não acentuada. Nossa expectativa é de melhorar a situação com obras públicas, como o Hospital de Juazeiro, a Academia de Polícia Militar e outras de menorporte. Assim acreditamos ter em 2009, uns 28 mil postos, que seria equivalente ao primeiro trimestre de 2008.
Nenhum comentário:
Postar um comentário