O comerciante Paulo dos Santos, morador do bairro Goiabeiras, pretende instalar câmeras de segurança na sua farmácia. Ele já possui duas grades, alarme e sensores, mas ainda não se sente tão seguro (Foto: JOÃO LUÍS)
A violência torna os moradores prisioneiros do próprio lar. O sistema de segurança eletrônica é recurso para enfrentar
Após o triste dia em que foi assaltando e maltratado por criminosos dentro de sua própria casa, o contador Kennedy Martins, 36 anos, recorreu à câmera de segurança (cercada por grades) na entrada de sua residência, onde também funciona o escritório de contabilidade, no Pirambu. Ao ser enganado por dois ladrões no interfone, o contador afirma que “a cada dia, estamos nos tornando prisioneiros do próprio lar”.
Afinal, como revela, “todo mundo vive com medo. Blinda o carro, faz de tudo. A câmera é só um paliativo, não é a solução. Ela serve de precaução, mas, hoje, você sai e não sabe se volta”, desabafa. Da mesma preocupação vive o comerciante Paulo dos Santos, 53 anos. Proprietário de uma farmácia no bairro Goiabeiras, Paulo já possui duas grades, alarme e sensor na loja. Porém, como planos para o futuro, ele pretende instalar câmeras.
“Nesses bairros mais pobres é que é perigoso mesmo. Penso com o tempo em colocar (câmeras) porque ajuda em alguma coisa. Pode servir para identificar e inibir a ação de alguns assaltantes”, acredita Paulo. Conforme constatam os pesquisadores Beatriz Furtado e César Barreira, diante de tanto esforço para se resguardar da violência urbana, o impedimento das relações interpessoais acaba sendo uma conseqüência direta dessa “almejada sensação de segurança”.
De acordo com Barreira, sociólogo e coordenador do Laboratório de Estudos da Violência da UFC, o acesso mais fácil e barato a esses instrumentos eletrônicos torna comum a presença de câmeras em casas, comércios, de bairros com o IDH mais baixo que os demais. Aliado ao medo da violência, o sistema de segurança funciona, também, como um modificador das práticas.
Antes, como recorda, as pessoas costumavam se reunir em praças, conhecer os vizinhos, enfim, ocupar os espaços. Atualmente, como os moradores não se sentem mais seguros em público, cada vez mais as relações com os vizinhos fica prejudicada.
Como comenta Beatriz Furtado, mestre em Comunicação e doutora em Sociologia, com os recursos que propiciam o controle, impede-se, cada vez mais, o contato humano. Como cita, não se encontram mais os muros baixos, que era visível para os vizinhos. A relação de amizade e comunicação, que antes se concretizava até mesmo pela visibilidade da casa ao lado, não mais acontece.
“As pessoas moram ao lado uma das outras, mas não se comunicam. Não se protegem, não há as relações. Na atualidade, o corpo é marcado por dispositivos para proporcionar segurança. Você não olha mais no espaço público para encontrar alguém, mas para ver como é possível se proteger, quais os perigos que cercam”, argumenta a professora da UFC.
Na opinião de Beatriz Furtado, “a gente não pode deixar o espaço público como local do medo, do perigo. Em casa, passamos a ser prisioneiros do medo. Estamos aprisionados. Os carros são blindados, há sistemas de alarmes, ou seja, mecanismos de afastamento das relações sociais”. Como conclui a professora, hoje, a sociedade quer ver e tornar visível, por meio das câmeras.
Para o sociólogo César Barreira, o problema, portanto, é que a decisão de cada um cuidar da sua própria segurança, em virtude, sobretudo, de não confiar no poder público, é que as pessoas acabam por não exercer a cidadania. Na sua opinião, o bem-estar coletivo tinha de ser uma preocupação e não cair no esquecimento.
Como disse Barreira, em vez de a maioria reivindicar por melhorias, seja com iluminação de uma rua ou praça; a reparação de buracos nas ruas ou o acesso ao bairro, muitos preferem cuidar cada um de sua segurança pessoal.
“Todos deveriam exigir mais políticas, e não se estende apenas a policiais. É preciso agir mais no plano da cidadania”, diz Barreira.
VIGILÂNCIA
8.000 câmeras, do modelo comercial, operam na Capital, conforme o Sindicato das Empresas de Segurança Eletrônica. No Interior, são 1.500 dessas mais simples
Após o triste dia em que foi assaltando e maltratado por criminosos dentro de sua própria casa, o contador Kennedy Martins, 36 anos, recorreu à câmera de segurança (cercada por grades) na entrada de sua residência, onde também funciona o escritório de contabilidade, no Pirambu. Ao ser enganado por dois ladrões no interfone, o contador afirma que “a cada dia, estamos nos tornando prisioneiros do próprio lar”.
Afinal, como revela, “todo mundo vive com medo. Blinda o carro, faz de tudo. A câmera é só um paliativo, não é a solução. Ela serve de precaução, mas, hoje, você sai e não sabe se volta”, desabafa. Da mesma preocupação vive o comerciante Paulo dos Santos, 53 anos. Proprietário de uma farmácia no bairro Goiabeiras, Paulo já possui duas grades, alarme e sensor na loja. Porém, como planos para o futuro, ele pretende instalar câmeras.
“Nesses bairros mais pobres é que é perigoso mesmo. Penso com o tempo em colocar (câmeras) porque ajuda em alguma coisa. Pode servir para identificar e inibir a ação de alguns assaltantes”, acredita Paulo. Conforme constatam os pesquisadores Beatriz Furtado e César Barreira, diante de tanto esforço para se resguardar da violência urbana, o impedimento das relações interpessoais acaba sendo uma conseqüência direta dessa “almejada sensação de segurança”.
De acordo com Barreira, sociólogo e coordenador do Laboratório de Estudos da Violência da UFC, o acesso mais fácil e barato a esses instrumentos eletrônicos torna comum a presença de câmeras em casas, comércios, de bairros com o IDH mais baixo que os demais. Aliado ao medo da violência, o sistema de segurança funciona, também, como um modificador das práticas.
Antes, como recorda, as pessoas costumavam se reunir em praças, conhecer os vizinhos, enfim, ocupar os espaços. Atualmente, como os moradores não se sentem mais seguros em público, cada vez mais as relações com os vizinhos fica prejudicada.
Como comenta Beatriz Furtado, mestre em Comunicação e doutora em Sociologia, com os recursos que propiciam o controle, impede-se, cada vez mais, o contato humano. Como cita, não se encontram mais os muros baixos, que era visível para os vizinhos. A relação de amizade e comunicação, que antes se concretizava até mesmo pela visibilidade da casa ao lado, não mais acontece.
“As pessoas moram ao lado uma das outras, mas não se comunicam. Não se protegem, não há as relações. Na atualidade, o corpo é marcado por dispositivos para proporcionar segurança. Você não olha mais no espaço público para encontrar alguém, mas para ver como é possível se proteger, quais os perigos que cercam”, argumenta a professora da UFC.
Na opinião de Beatriz Furtado, “a gente não pode deixar o espaço público como local do medo, do perigo. Em casa, passamos a ser prisioneiros do medo. Estamos aprisionados. Os carros são blindados, há sistemas de alarmes, ou seja, mecanismos de afastamento das relações sociais”. Como conclui a professora, hoje, a sociedade quer ver e tornar visível, por meio das câmeras.
Para o sociólogo César Barreira, o problema, portanto, é que a decisão de cada um cuidar da sua própria segurança, em virtude, sobretudo, de não confiar no poder público, é que as pessoas acabam por não exercer a cidadania. Na sua opinião, o bem-estar coletivo tinha de ser uma preocupação e não cair no esquecimento.
Como disse Barreira, em vez de a maioria reivindicar por melhorias, seja com iluminação de uma rua ou praça; a reparação de buracos nas ruas ou o acesso ao bairro, muitos preferem cuidar cada um de sua segurança pessoal.
“Todos deveriam exigir mais políticas, e não se estende apenas a policiais. É preciso agir mais no plano da cidadania”, diz Barreira.
VIGILÂNCIA
8.000 câmeras, do modelo comercial, operam na Capital, conforme o Sindicato das Empresas de Segurança Eletrônica. No Interior, são 1.500 dessas mais simples
Fortaleza: uma cidade vigiada
No bairro Goibeiras, próximo ao Pirambu, moradores e comerciantes reclamam da violência. No mercado, quatro câmeras fazem a segurança diária de funcionários e produtos
No mercado, segundo o Siese-CE, há dois tipos de câmera, sendo as simples mais comercializadas
O medo da violência gera a busca por sistema de proteção. Porém, até onde isso não atrapalha as relações interpessoais?
Talvez até mais comum do que encontrar pessoas conhecidas nas ruas, seja deparar-se com aquela frase de “sorria, você está sendo filmado”. Aliás, para ler esse “simpático” aviso, não é preciso sequer se esforçar muito. Basta subir ou descer pelo elevador; dirigir-se a um estacionamento; ou entrar em um comércio. Por sinal, a presença de câmeras nesses lugares, antes característica de bairros com maior poder aquisitivo, é cada vez mais popular.
Ao andar pela Capital, pode-se afirmar que Fortaleza é uma cidade sob constante vigilância. Diga-se de passagem, não apenas no espaço público, mas cada vez mais no privado, devido à insegurança e ao medo da violência urbana. Para se ter uma idéia, segundo o empresário Carlos Oliveira, presidente do Sindicato das Empresas de Sistemas Eletrônicos de Segurança do Estado do Ceará (Siesi- CE), ao todo, existem 9.900 câmeras, obtidas por iniciativa privada no Estado.
Conforme esclarece Oliveira, no mercado, há a oferta de dois sistemas de Circuito Fechado de Televisão (CFTV). O chamado comercial, oriundo da China, caracteriza-se pelas câmeras serem mais simples, sem muitos recursos; e o profissional, com mais incrementos de lentes e etc.
Em relação às comercias, no Ceará existem 9.500, sendo 8.000 somente em Fortaleza e o restante no Interior. Já do modelo profissional, são 400, localizando 300 na Capital. “A oferta da segurança eletrônica, no sentido popular, chegou a Fortaleza em 1992, por meio das empresas Prime Eletronic Security e Balta Serviços Eletrônicos. Só três anos depois, o mercado começou a despertar para essa modalidade de segurança”, explica o empresário.
Na opinião dele, com o passar dos anos e a credibilidade no serviço eletrônico crescendo, houve uma procura maior pelos sistemas de TV. Tanto que, agora, não se pode estabelecer um perfil exato dos segmentos que mais buscam a segurança eletrônica.
“O mercado atuava exclusivamente com a segurança física, que cobrava um valor dez vezes superior ao da segurança eletrônica. Com o tempo, o mercado começou a analisar o custo/ benefício, além das inúmeras qualidades, sem falhas que a segurança eletrônica já proporcionava. Na verdade, era a eficiência da máquina contra diversas falhas do homem”.
Em números, o presidente do Siese afirma que , no Interior, houve um aumento de 12% na demanda, enquanto que, na Capital, esse percentual foi de 3% em relação ao ano passado. Apesar de o empresário afirmar que 35% dessas máquinas se encontram na Aldeota, ao percorrer a cidade constata-se que até mesmo em bairros com baixos Índices de Desenvolvimento Humano (IDHs) o uso dos aparelhos se faz presente.
De acordo com o cálculo da Secretaria Municipal de Planejamento e Orçamento (Sepla), com base nos dados do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE) de 2000, o Pirambu, por exemplo, apresenta um dos menores índices da Capital. A definição leva em conta o nível de educação, renda per capita e longevidade da população. No estudo, o bairro aparece com 0,391, quando o ideal, ou mais apropriado, seria de 0,800.
Porém, até mesmo nele, em que a população possui um poder aquisitivo tão restrito, é possível conferir mercados, farmácias, escritórios e residências com o sistema de segurança eletrônica, que causa a sensação de segurança, em meio aos constantes assaltos, furtos e demais crimes da região.
Afinal, como averigua o sociólogo César Barreira, coordenador do Laboratório de Estudos da Violência (LEV) da Universidade Federal do Ceará (UFC), assim como a alimentação e a moradia, a segurança tornou-se um das prioridades dos cidadãos.
Como destaca, hoje, as pessoas fazem tudo que é possível para obter a segurança. Como disse, seja essa sensação por meio de cercas elétricas, carros blindados, câmeras, cachorros etc. A idéia de agir por conta própria, como reflete Barreira, deriva da não confiança no poder público em solucionar o problema que tanto aflige.
ESTATÍSTICAS
8.000 sistemas de segurança eletrônica do modelo comercial (simples, apenas com a câmera) de circuito fechado de TV estão espalhados pela Capital cearense
300 sistemas de circuito fechado de TV, chamado profissional (de câmeras com mais recursos), estão em Fortaleza
1.500 circuitos do modelo comercial estão instalados, atualmente, no Interior do Estado
100 sistemas profissionais de segurança eletrônica estão localizados em municípios interioranos
12% é a porcentagem, registrada pelo Sindicato das Empresas de Sistemas Eletrônicos de Segurança do Estado do Ceará, de aumento na demanda do serviço de vigilância no Interior cearense, em relação ao ano passado
3% foi o que aumentou na demanda em Fortaleza, em comparação aos dados de 2007
35% das câmeras de vigilância privada na Capital estão concentradas no bairro Aldeota
70 é a média, prevista pelo Siesi - CE, de empresas que comercializam produtos de segurança eletrônica
30, aproximadamente, são as empresas que fazem monitoramento com envio de viaturas
Talvez até mais comum do que encontrar pessoas conhecidas nas ruas, seja deparar-se com aquela frase de “sorria, você está sendo filmado”. Aliás, para ler esse “simpático” aviso, não é preciso sequer se esforçar muito. Basta subir ou descer pelo elevador; dirigir-se a um estacionamento; ou entrar em um comércio. Por sinal, a presença de câmeras nesses lugares, antes característica de bairros com maior poder aquisitivo, é cada vez mais popular.
Ao andar pela Capital, pode-se afirmar que Fortaleza é uma cidade sob constante vigilância. Diga-se de passagem, não apenas no espaço público, mas cada vez mais no privado, devido à insegurança e ao medo da violência urbana. Para se ter uma idéia, segundo o empresário Carlos Oliveira, presidente do Sindicato das Empresas de Sistemas Eletrônicos de Segurança do Estado do Ceará (Siesi- CE), ao todo, existem 9.900 câmeras, obtidas por iniciativa privada no Estado.
Conforme esclarece Oliveira, no mercado, há a oferta de dois sistemas de Circuito Fechado de Televisão (CFTV). O chamado comercial, oriundo da China, caracteriza-se pelas câmeras serem mais simples, sem muitos recursos; e o profissional, com mais incrementos de lentes e etc.
Em relação às comercias, no Ceará existem 9.500, sendo 8.000 somente em Fortaleza e o restante no Interior. Já do modelo profissional, são 400, localizando 300 na Capital. “A oferta da segurança eletrônica, no sentido popular, chegou a Fortaleza em 1992, por meio das empresas Prime Eletronic Security e Balta Serviços Eletrônicos. Só três anos depois, o mercado começou a despertar para essa modalidade de segurança”, explica o empresário.
Na opinião dele, com o passar dos anos e a credibilidade no serviço eletrônico crescendo, houve uma procura maior pelos sistemas de TV. Tanto que, agora, não se pode estabelecer um perfil exato dos segmentos que mais buscam a segurança eletrônica.
“O mercado atuava exclusivamente com a segurança física, que cobrava um valor dez vezes superior ao da segurança eletrônica. Com o tempo, o mercado começou a analisar o custo/ benefício, além das inúmeras qualidades, sem falhas que a segurança eletrônica já proporcionava. Na verdade, era a eficiência da máquina contra diversas falhas do homem”.
Em números, o presidente do Siese afirma que , no Interior, houve um aumento de 12% na demanda, enquanto que, na Capital, esse percentual foi de 3% em relação ao ano passado. Apesar de o empresário afirmar que 35% dessas máquinas se encontram na Aldeota, ao percorrer a cidade constata-se que até mesmo em bairros com baixos Índices de Desenvolvimento Humano (IDHs) o uso dos aparelhos se faz presente.
De acordo com o cálculo da Secretaria Municipal de Planejamento e Orçamento (Sepla), com base nos dados do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE) de 2000, o Pirambu, por exemplo, apresenta um dos menores índices da Capital. A definição leva em conta o nível de educação, renda per capita e longevidade da população. No estudo, o bairro aparece com 0,391, quando o ideal, ou mais apropriado, seria de 0,800.
Porém, até mesmo nele, em que a população possui um poder aquisitivo tão restrito, é possível conferir mercados, farmácias, escritórios e residências com o sistema de segurança eletrônica, que causa a sensação de segurança, em meio aos constantes assaltos, furtos e demais crimes da região.
Afinal, como averigua o sociólogo César Barreira, coordenador do Laboratório de Estudos da Violência (LEV) da Universidade Federal do Ceará (UFC), assim como a alimentação e a moradia, a segurança tornou-se um das prioridades dos cidadãos.
Como destaca, hoje, as pessoas fazem tudo que é possível para obter a segurança. Como disse, seja essa sensação por meio de cercas elétricas, carros blindados, câmeras, cachorros etc. A idéia de agir por conta própria, como reflete Barreira, deriva da não confiança no poder público em solucionar o problema que tanto aflige.
ESTATÍSTICAS
8.000 sistemas de segurança eletrônica do modelo comercial (simples, apenas com a câmera) de circuito fechado de TV estão espalhados pela Capital cearense
300 sistemas de circuito fechado de TV, chamado profissional (de câmeras com mais recursos), estão em Fortaleza
1.500 circuitos do modelo comercial estão instalados, atualmente, no Interior do Estado
100 sistemas profissionais de segurança eletrônica estão localizados em municípios interioranos
12% é a porcentagem, registrada pelo Sindicato das Empresas de Sistemas Eletrônicos de Segurança do Estado do Ceará, de aumento na demanda do serviço de vigilância no Interior cearense, em relação ao ano passado
3% foi o que aumentou na demanda em Fortaleza, em comparação aos dados de 2007
35% das câmeras de vigilância privada na Capital estão concentradas no bairro Aldeota
70 é a média, prevista pelo Siesi - CE, de empresas que comercializam produtos de segurança eletrônica
30, aproximadamente, são as empresas que fazem monitoramento com envio de viaturas
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