Questão de ética?
O artista Rodrigo Braga na série “Fantasia de Compensação”: manipulação digital e produção plástica num trabalho polêmico
Laura Lima: polêmcia com o trabalho “Galinhas de Gala e Galinheiro de Gala”
“Galinhas de Gala e Galinheiro de Gala” não é a primeira exposição de arte contemporânea a utilizar animais como expressão artística
Mãe, tira uma foto minha com as galinhas? ´Que coisa é essa?´ ´Estar tudo fora de contexto!´ ´Parece carnaval, mas não é!´ ´Loucura!´ Risos... Com menos de uma semana exposto no Museu de Arte Contemporânea (MAC) do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, o trabalho ´Galinhas de Gala e Galinheiro de Gala´, da artista mineira Laura Lima, radicada no Rio de Janeiro, vêm despertando diversas reações no público fortalezense. Uma, inclusive, têm sido incitada pela União Internacional Protetora dos Animais (UIPA), que entrou com uma ação para interditar a participação do trabalho no MAC.
Esta não é a primeira vez que o uso de animais na arte causa polêmicas e inquietações entre as pessoas. Em 2004, por exemplo, o artista pernambucano Rodrigo Braga ao realizar a série ´Fantasia de Compensação´, foi acusado de eutanasiar um cão do Centro Municipal de Controle de Zoonozes do Recife. Neste trabalho, ele se valeu de procedimentos que mesclam produção plástica (real) e manipulação digital (virtual), para a composição de um total de 14 fotografias em que produzia imagens zoomórficas, com intenção antropofágica, de fundir sua cabeça com a de um rottweiler.
Segundo Rodrigo Braga, em nota de esclarecimento publicada em seu site (www.rodrigobraga.com.br), para o desenvolvimento da série ´Fantasia de Compensação´, o animal não sofreu nenhum tipo de sofrimento e nem teve sua morte induzida no trabalho. Seu corpo foi obtido mediante autorização formal (documento por escrito), concedida pelo Centro de Vigilância Ambiental da Prefeitura do Recife, visando utilização exclusiva para fins artísticos - tal qual são concedidos autorizações para finalidades científicas.
Como toda produção contemporânea que procura refletir as relações do artista com o mundo, Rodrigo Braga partiu de uma experiência pessoal para o desenvolvimento deste trabalho: ´Aos 17 anos quando caminhava por uma avenida por volta das sete horas da manhã para pegar o ônibus que tomava todos os dias para ir ao colégio, me deparei com um cachorro muito magro, sarnento, bastante doente. Ele se tremia enquanto tentava ficar de pé. Assim que cruzamos olhares, caí no choro no meio da rua.Tinha muito medo que as pessoas me notassem doente como aquele cachorro [...] Hoje vejo que tive identificação imediata com aquele animal. Depois de curado, tanto tempo depois desse episódio, ainda não me vejo como um rottweiler mas às vezes acho que precisaria ser...´
Outro exemplo foi o do artista costa riquenho Guilhermo Habacuc Vargas, que em 2007, foi acusado deixar um cão morrer de sede e fome durante trabalho realizado numa galeria de arte de Manágua -Nicarágua. O trabalho gerou protestos em todo o mundo, mesmo, após a explicação da diretora da Exposição, Juanita Bermudez, que disse ter sido o cão alimentado e, somente, amarrado no horário de visitas da mostra. O artista resolveu fazer esse trabalho como uma forma de refletir sobre um acontecimento que ocorreu com seu amigo, o nicaragüense Leopoldo Natividad Canda Mairena, que foi devorado por dois rottweiler na presença de policiais. Natividad, de 25 anos, morador de rua, vivia ilegalmente, há nove anos, na Costa Rica. Segundo as investigações feitas na época do acontecido (10 de novembro de 2005), sua morte foi resultante de omissão de socorro ligada ao descompromisso do dever policial.
O cão exposto na galeria era a metáfora de seu amigo e nada mais. O que Habacuc queria com esta ação era promover a dicussão sobre a falta de humanidade entre os próprios humanos.
Subjetividade
Surgida nos fins dos anos 60, a arte contemporânea, têm o intuito de abrir-se à subjetividade do artista. Nela o que importa, não é a técnica e a forma em si, mas a situação e a atitude em que brota o trabalho artístico. Agora, o artista faz uso de outros meios, que não só os tradicionais: pincel, tinta e tela; mas de seu próprio corpo, da cidade, entre outros. Logo, é comum os artistas usarem em seus trabalhos seres vivos.
Mas, por que é que o uso de animais na arte gera tanta polêmica, uma vez que os mesmos são utilizados em outros campos, os quais, muitas vezes, são submetidos a meios dolorosos e sofridos? O que dizer do uso de animais em laboratórios científicos que tem seus corpos e organismos modificados e dilacerados em nome da ciência, onde, em certos casos, o que importa não é o bem-estar da população mais o ego do pesquisador? E as granjas? Locais onde os frangos para serem abatidos num período de 40 dias ou menos, comem ração lotada de hormônios do crescimento, que podem causar sérios danos a saúde humana, como impotência sexual e câncer. Essas são apenas questões para se pensar, antes de se tirar conclusões precipitadas.
O QUE ELES PENSAM
O que incomoda é o estranhamento
O problema não é usar ou não os animais, mas sim a forma como eles estão sendo tratados. O artista pensa o meio em que vive, é muito comum encontrar elementos que fazem parte da relação dele com o mundo. A ética do artista está no respeito com o material que ele trabalha, independente de ser algo vivo ou não. Por exemplo, se o artista utilizar em seu trabalho uma tinta tóxica, que pode tanto prejudicá-lo como o público, essa sim é a questão a ser pensada! O que é incomoda as pessoas não é o fato de usar animais ou não, mas o estranhamento que de um trabalho que elas não conhecem.
JARED DOMICIO
Artista plástico
Primeiro tem que se observar uma coisa, se o Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura virou um aviário, ai tudo bem, o galinheiro é admissível!Caso contrário, esse trabalho é um fracasso como manifestação artística. Se os animais estão sendo bem tratados, a minha objeção é no tocante artístico. Logo, discordo completamente desse trabalho, uma vez que o local onde ele estar instalado é inadequado para a ´criação de galinhas´, mesmo, tendo estes animais um tratamento adequado.
ESTRIGAS FIRMEZA
Artista plástico
Mãe, tira uma foto minha com as galinhas? ´Que coisa é essa?´ ´Estar tudo fora de contexto!´ ´Parece carnaval, mas não é!´ ´Loucura!´ Risos... Com menos de uma semana exposto no Museu de Arte Contemporânea (MAC) do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, o trabalho ´Galinhas de Gala e Galinheiro de Gala´, da artista mineira Laura Lima, radicada no Rio de Janeiro, vêm despertando diversas reações no público fortalezense. Uma, inclusive, têm sido incitada pela União Internacional Protetora dos Animais (UIPA), que entrou com uma ação para interditar a participação do trabalho no MAC.
Esta não é a primeira vez que o uso de animais na arte causa polêmicas e inquietações entre as pessoas. Em 2004, por exemplo, o artista pernambucano Rodrigo Braga ao realizar a série ´Fantasia de Compensação´, foi acusado de eutanasiar um cão do Centro Municipal de Controle de Zoonozes do Recife. Neste trabalho, ele se valeu de procedimentos que mesclam produção plástica (real) e manipulação digital (virtual), para a composição de um total de 14 fotografias em que produzia imagens zoomórficas, com intenção antropofágica, de fundir sua cabeça com a de um rottweiler.
Segundo Rodrigo Braga, em nota de esclarecimento publicada em seu site (www.rodrigobraga.com.br), para o desenvolvimento da série ´Fantasia de Compensação´, o animal não sofreu nenhum tipo de sofrimento e nem teve sua morte induzida no trabalho. Seu corpo foi obtido mediante autorização formal (documento por escrito), concedida pelo Centro de Vigilância Ambiental da Prefeitura do Recife, visando utilização exclusiva para fins artísticos - tal qual são concedidos autorizações para finalidades científicas.
Como toda produção contemporânea que procura refletir as relações do artista com o mundo, Rodrigo Braga partiu de uma experiência pessoal para o desenvolvimento deste trabalho: ´Aos 17 anos quando caminhava por uma avenida por volta das sete horas da manhã para pegar o ônibus que tomava todos os dias para ir ao colégio, me deparei com um cachorro muito magro, sarnento, bastante doente. Ele se tremia enquanto tentava ficar de pé. Assim que cruzamos olhares, caí no choro no meio da rua.Tinha muito medo que as pessoas me notassem doente como aquele cachorro [...] Hoje vejo que tive identificação imediata com aquele animal. Depois de curado, tanto tempo depois desse episódio, ainda não me vejo como um rottweiler mas às vezes acho que precisaria ser...´
Outro exemplo foi o do artista costa riquenho Guilhermo Habacuc Vargas, que em 2007, foi acusado deixar um cão morrer de sede e fome durante trabalho realizado numa galeria de arte de Manágua -Nicarágua. O trabalho gerou protestos em todo o mundo, mesmo, após a explicação da diretora da Exposição, Juanita Bermudez, que disse ter sido o cão alimentado e, somente, amarrado no horário de visitas da mostra. O artista resolveu fazer esse trabalho como uma forma de refletir sobre um acontecimento que ocorreu com seu amigo, o nicaragüense Leopoldo Natividad Canda Mairena, que foi devorado por dois rottweiler na presença de policiais. Natividad, de 25 anos, morador de rua, vivia ilegalmente, há nove anos, na Costa Rica. Segundo as investigações feitas na época do acontecido (10 de novembro de 2005), sua morte foi resultante de omissão de socorro ligada ao descompromisso do dever policial.
O cão exposto na galeria era a metáfora de seu amigo e nada mais. O que Habacuc queria com esta ação era promover a dicussão sobre a falta de humanidade entre os próprios humanos.
Subjetividade
Surgida nos fins dos anos 60, a arte contemporânea, têm o intuito de abrir-se à subjetividade do artista. Nela o que importa, não é a técnica e a forma em si, mas a situação e a atitude em que brota o trabalho artístico. Agora, o artista faz uso de outros meios, que não só os tradicionais: pincel, tinta e tela; mas de seu próprio corpo, da cidade, entre outros. Logo, é comum os artistas usarem em seus trabalhos seres vivos.
Mas, por que é que o uso de animais na arte gera tanta polêmica, uma vez que os mesmos são utilizados em outros campos, os quais, muitas vezes, são submetidos a meios dolorosos e sofridos? O que dizer do uso de animais em laboratórios científicos que tem seus corpos e organismos modificados e dilacerados em nome da ciência, onde, em certos casos, o que importa não é o bem-estar da população mais o ego do pesquisador? E as granjas? Locais onde os frangos para serem abatidos num período de 40 dias ou menos, comem ração lotada de hormônios do crescimento, que podem causar sérios danos a saúde humana, como impotência sexual e câncer. Essas são apenas questões para se pensar, antes de se tirar conclusões precipitadas.
O QUE ELES PENSAM
O que incomoda é o estranhamento
O problema não é usar ou não os animais, mas sim a forma como eles estão sendo tratados. O artista pensa o meio em que vive, é muito comum encontrar elementos que fazem parte da relação dele com o mundo. A ética do artista está no respeito com o material que ele trabalha, independente de ser algo vivo ou não. Por exemplo, se o artista utilizar em seu trabalho uma tinta tóxica, que pode tanto prejudicá-lo como o público, essa sim é a questão a ser pensada! O que é incomoda as pessoas não é o fato de usar animais ou não, mas o estranhamento que de um trabalho que elas não conhecem.
JARED DOMICIO
Artista plástico
Primeiro tem que se observar uma coisa, se o Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura virou um aviário, ai tudo bem, o galinheiro é admissível!Caso contrário, esse trabalho é um fracasso como manifestação artística. Se os animais estão sendo bem tratados, a minha objeção é no tocante artístico. Logo, discordo completamente desse trabalho, uma vez que o local onde ele estar instalado é inadequado para a ´criação de galinhas´, mesmo, tendo estes animais um tratamento adequado.
ESTRIGAS FIRMEZA
Artista plástico
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