Bioprospecção Molecular
Pesquisa avalia uso do pequi na cura de doenças
Pesquisa inédita realizada por dois estudiosos na Urca avaliam as propriedades terapêuticas do pequi
Juazeiro do Norte. Dados preliminares de estudos científicos, para o uso terapêutico do pequi, apontam resultados significativos da ação antiinflamatória, cicatrizante e gastroprotetora do óleo extraído do fruto. O trabalho vem sendo comprovado em animais por meio do trabalho realizado pelos pesquisadores, o enfermeiro Glauberto da Silva Quirino, e o biólogo Rogério de Aquino Saraiva, mestrandos na área de Bioprospecção Molecular, primeiro mestrado do gênero no Brasil, oferecido pela Universidade Regional do Cariri (URCA).
Os primeiros resultados estão sendo testados em ratos, no laboratório da própria universidade. Os pesquisadores avaliam de forma animadora os trabalhos, para que mais tarde os testes possam ser feitos em serem humanos. Mas a inspiração mesmo veio do próprio caririense, do senso comum.
O óleo sempre é produzido e comercializado por suas propriedades terapêuticas, mas nada comprovado do valor científico do fruto.
Forma de sobrevivência
Na Serra do Araripe, nesta época do ano, o pequi passa a ser para muitos produtores rurais uma forma de sobrevivência, e também um alimento nutritivo. Rico em vitamina E, desperta para o poder até afrodisíaco do fruto. Esse detalhe é abordado pelo professor Glauberto como resultado desta propriedade. O seu trabalho tem como ponto de partida a aplicação terapêutica, no estudo “Ação Cicatrizante e Gastroprotetora do Óleo”.
Mesmo sendo já bastante comercializado na região, o pequi neste período, em sua grande parte, provém de cidades do interior de Goiás. Mas os pesquisadores destacam o diferencial apresentado pelo fruto da Chapada do Araripe, pelas suas propriedades terapêuticas. Mesmo sem ter idéia desses resultados, famílias fazem a festa nesta época do ano, ao começarem a se preparar para morar em cima da serra, durante praticamente um semestre.
A colheita começa e um grande acampamento se forma entre as cidades de Barbalha e Jardim, na beira da CE-060, o óleo pode ser visto e comercializado em poucos dias. É preparado pelos próprios catadores. No próprio local, eles também comercializam o fruto. A culinária para adultos e crianças é bem à base do que é colhido.
A conhecida “pequisada” é um prato tradicional. Um período de fartura para os agricultores. Mas em outras partes da Chapada, à beira das rodovias, é comum se ver moradores montarem barraquinhas de palha para venda do fruto, utilizado como tempero para o baião de dois com feijão verde, bem a cara da fase invernosa na região caririense.
O biólogo Rogério de Aquino Saraiva desenvolve sua pesquisa ressaltando o “Estudo da Atividade Antiinflamatória Tópica do Óleo de Pequi”, denominado cientificamente por Caryoca coriáceun. Ele destaca o ineditismo da pesquisa no Ceará. “Não conheço nem um trabalho do gênero, destacando um pequi, fruto da região da Chapada”, diz.
Esses primeiros resultados já estão sendo apresentados pelos pesquisadores da Urca, em eventos como o Congresso da Federação Brasileira de Biologia Experimental, e como trabalho precursor em congresso em João Pessoa, na Paraíba. Segundo Glauberto, foi feita um avaliação da propriedade de gastroproteção, com o óleo ou polpa, em modelo de úlcera induzida por etanol e aspirina.
Para os pesquisadores, os primeiros resultados foram positivos. “A gente estendeu esses trabalhos, testando quatro mecanismos de gastroproteção, incluindo prostraglandina, óxido nítrico e canal de potássio dependente”, explica ele. Para desenvolver a pesquisa, Glauberto afirma que o seu trabalho partiu do conhecimento já da própria população e a partir desse dado fez um levantamento bibliográfico. A literatura aponta, além da ação antiinflamatória, aplicação contra problemas respiratórios.
Composição química
Glauberto destaca estudos que já foram realizados quanto a composição química do produto. A do óleo é bem definida com a presença de vários ácidos graxos, essenciais ao funcionamento orgânico, vitaminas A, E, C . “São vitaminas que participam do processo antioxidação, renovando as células”, explica. No caso do risco de aumento de colesterol, Glauberto destaca que pode ser improvável, já que os ácidos graxos são benéficos ao bom funcionamento do organismo.
Glauberto destaca trabalhos já produzidos, mas voltados para o pequi da região centro-oeste, o Caryoca brasiliense, diferente do da região do Araripe. “São propriedades singulares, mas com variações de percentuais dos componentes”, explica o estudioso.
Os próximos passos do pesquisador é poder desenvolver uma forma farmacêutica para o produto tipicamente regional, que poderá sair da cozinha para os balcões das farmácias.
COMPROVAÇÃO
"Nós estendemos as pesquisas, testando quatro mecanismos de aplicação terapêutica do pequi".
Glauberto da Silva Quirino
Pesquisador da Urca
"O uso tópico em contusões e edemas conseguem reduzir significativamente uma inflamação".
Rogério de Aquino Saraiva
Pesquisador da Urca
Mais informações:
Mestrado de Bioprospecção Molecular, Universidade Regional do Cariri (Urca)
Rua Coronel Antônio Luiz, 1161, Crato, (88) 3102.1291
RIQUEZA NATURAL
Parcerias com universidades viabiliza o estudo
Juazeiro do Norte. O despertar para as pesquisas numa região estratégica como a Chapada do Araripe é de fundamental importância, dentro da riqueza do que representa o potencial da flora local. Isso, segundo o pesquisador Glauberto Quirino, possibilita a visualização regional para outras localidades do País e a atração de pesquisadores locais. A Chapada é uma área de alta prioridade de preservação.
O pesquisador ressalta a parceria do trabalho de pesquisa, com a contribuição da Universidade Estadual do Ceará (Uece) e o Departamento de Física da Universidade Federal do Ceará (UFC), para buscar alguns dados. Ele também aborda o trabalho pioneiro do Laboratório de Pesquisas de Produtos Naturais (LPPN) da Urca, há seis anos implantado na universidade, onde são realizadas pesquisas na área fitoquímica.
O biólogo Rogério de Aquino Saraiva se alegra com os ensaios preliminares, com uma redução da inflamação em ferimentos nos ratos. Os testes foram iniciados em maio deste ano. “O uso tópico em contusões e edemas conseguem reduzir significativamente uma inflamação”, diz, ao acrescentar que, nos trabalhos futuros, pretender fazer a verificação da atividade sistêmica, através da ingestão do óleo de pequi por via oral ou injeção, avaliando a sua reação. Esses testes passarão a ser feitos inicialmente nos animais. São os chamados estudos pré-clínicos.
Nem sempre quando se leva em consideração o conhecimento popular, podem ser comprovados os efeitos farmacológicos do produto. De acordo com Rogério, os estudos já feitos em comunidades carentes mostram ser este período de safra do pequi um momento em que as crianças ganham peso e mulheres ficam mais nutridas. Para o biólogo, a sua perspectiva agora é desenvolver a parte toxicológica. Serão observados, nos ensaios posteriores, se há redução do colesterol ruim e a ação dos lipídeos. O pequi também possui proteínas, mas os lipídeos e as vitaminas A e E prevalecem.
Ainda há muito o que se fazer em relação a essas pesquisas. Segundo Glauberto, vários estudos ainda precisam ser feitos, com o isolamento das substâncias, para comprovações e posterior comercialização dos medicamentos. Pode levar até mais de uma década. Ele explica que todas as substância deverão ser testadas, uma a uma, para ver quais são os efeitos de todas elas. “Com isso, se chegará ao efeito potencializador de cada uma delas”.
SAIBA MAIS
Nativa
O Pequi é uma fruta nativa do cerrado brasileiro, muito utilizada na cozinha nordestina, do Centro-Oeste e norte de Minas Gerais. Dela é extraido um óleo denominado em outras áreas como azeite de pequi. Seus frutos são também consumidos cozidos, puros ou juntamente com arroz e frango
Peculiaridades
Seu caroço é dotado de muitos espinhos, e há necessidade de muito cuidado ao roer o fruto, evitando cravar nele os dentes, o que pode causar sérios ferimentos nas gengivas. O sabor e o aroma dos frutos são muito peculiares. Pode ser conservado tanto em essência quanto em conserva
Localização
A Árvore do pequi pode ser encontrada em diversas regiões do País como Nordeste e Centro-Oeste
Os primeiros resultados estão sendo testados em ratos, no laboratório da própria universidade. Os pesquisadores avaliam de forma animadora os trabalhos, para que mais tarde os testes possam ser feitos em serem humanos. Mas a inspiração mesmo veio do próprio caririense, do senso comum.
O óleo sempre é produzido e comercializado por suas propriedades terapêuticas, mas nada comprovado do valor científico do fruto.
Forma de sobrevivência
Na Serra do Araripe, nesta época do ano, o pequi passa a ser para muitos produtores rurais uma forma de sobrevivência, e também um alimento nutritivo. Rico em vitamina E, desperta para o poder até afrodisíaco do fruto. Esse detalhe é abordado pelo professor Glauberto como resultado desta propriedade. O seu trabalho tem como ponto de partida a aplicação terapêutica, no estudo “Ação Cicatrizante e Gastroprotetora do Óleo”.
Mesmo sendo já bastante comercializado na região, o pequi neste período, em sua grande parte, provém de cidades do interior de Goiás. Mas os pesquisadores destacam o diferencial apresentado pelo fruto da Chapada do Araripe, pelas suas propriedades terapêuticas. Mesmo sem ter idéia desses resultados, famílias fazem a festa nesta época do ano, ao começarem a se preparar para morar em cima da serra, durante praticamente um semestre.
A colheita começa e um grande acampamento se forma entre as cidades de Barbalha e Jardim, na beira da CE-060, o óleo pode ser visto e comercializado em poucos dias. É preparado pelos próprios catadores. No próprio local, eles também comercializam o fruto. A culinária para adultos e crianças é bem à base do que é colhido.
A conhecida “pequisada” é um prato tradicional. Um período de fartura para os agricultores. Mas em outras partes da Chapada, à beira das rodovias, é comum se ver moradores montarem barraquinhas de palha para venda do fruto, utilizado como tempero para o baião de dois com feijão verde, bem a cara da fase invernosa na região caririense.
O biólogo Rogério de Aquino Saraiva desenvolve sua pesquisa ressaltando o “Estudo da Atividade Antiinflamatória Tópica do Óleo de Pequi”, denominado cientificamente por Caryoca coriáceun. Ele destaca o ineditismo da pesquisa no Ceará. “Não conheço nem um trabalho do gênero, destacando um pequi, fruto da região da Chapada”, diz.
Esses primeiros resultados já estão sendo apresentados pelos pesquisadores da Urca, em eventos como o Congresso da Federação Brasileira de Biologia Experimental, e como trabalho precursor em congresso em João Pessoa, na Paraíba. Segundo Glauberto, foi feita um avaliação da propriedade de gastroproteção, com o óleo ou polpa, em modelo de úlcera induzida por etanol e aspirina.
Para os pesquisadores, os primeiros resultados foram positivos. “A gente estendeu esses trabalhos, testando quatro mecanismos de gastroproteção, incluindo prostraglandina, óxido nítrico e canal de potássio dependente”, explica ele. Para desenvolver a pesquisa, Glauberto afirma que o seu trabalho partiu do conhecimento já da própria população e a partir desse dado fez um levantamento bibliográfico. A literatura aponta, além da ação antiinflamatória, aplicação contra problemas respiratórios.
Composição química
Glauberto destaca estudos que já foram realizados quanto a composição química do produto. A do óleo é bem definida com a presença de vários ácidos graxos, essenciais ao funcionamento orgânico, vitaminas A, E, C . “São vitaminas que participam do processo antioxidação, renovando as células”, explica. No caso do risco de aumento de colesterol, Glauberto destaca que pode ser improvável, já que os ácidos graxos são benéficos ao bom funcionamento do organismo.
Glauberto destaca trabalhos já produzidos, mas voltados para o pequi da região centro-oeste, o Caryoca brasiliense, diferente do da região do Araripe. “São propriedades singulares, mas com variações de percentuais dos componentes”, explica o estudioso.
Os próximos passos do pesquisador é poder desenvolver uma forma farmacêutica para o produto tipicamente regional, que poderá sair da cozinha para os balcões das farmácias.
COMPROVAÇÃO
"Nós estendemos as pesquisas, testando quatro mecanismos de aplicação terapêutica do pequi".
Glauberto da Silva Quirino
Pesquisador da Urca
"O uso tópico em contusões e edemas conseguem reduzir significativamente uma inflamação".
Rogério de Aquino Saraiva
Pesquisador da Urca
Mais informações:
Mestrado de Bioprospecção Molecular, Universidade Regional do Cariri (Urca)
Rua Coronel Antônio Luiz, 1161, Crato, (88) 3102.1291
RIQUEZA NATURAL
Parcerias com universidades viabiliza o estudo
Juazeiro do Norte. O despertar para as pesquisas numa região estratégica como a Chapada do Araripe é de fundamental importância, dentro da riqueza do que representa o potencial da flora local. Isso, segundo o pesquisador Glauberto Quirino, possibilita a visualização regional para outras localidades do País e a atração de pesquisadores locais. A Chapada é uma área de alta prioridade de preservação.
O pesquisador ressalta a parceria do trabalho de pesquisa, com a contribuição da Universidade Estadual do Ceará (Uece) e o Departamento de Física da Universidade Federal do Ceará (UFC), para buscar alguns dados. Ele também aborda o trabalho pioneiro do Laboratório de Pesquisas de Produtos Naturais (LPPN) da Urca, há seis anos implantado na universidade, onde são realizadas pesquisas na área fitoquímica.
O biólogo Rogério de Aquino Saraiva se alegra com os ensaios preliminares, com uma redução da inflamação em ferimentos nos ratos. Os testes foram iniciados em maio deste ano. “O uso tópico em contusões e edemas conseguem reduzir significativamente uma inflamação”, diz, ao acrescentar que, nos trabalhos futuros, pretender fazer a verificação da atividade sistêmica, através da ingestão do óleo de pequi por via oral ou injeção, avaliando a sua reação. Esses testes passarão a ser feitos inicialmente nos animais. São os chamados estudos pré-clínicos.
Nem sempre quando se leva em consideração o conhecimento popular, podem ser comprovados os efeitos farmacológicos do produto. De acordo com Rogério, os estudos já feitos em comunidades carentes mostram ser este período de safra do pequi um momento em que as crianças ganham peso e mulheres ficam mais nutridas. Para o biólogo, a sua perspectiva agora é desenvolver a parte toxicológica. Serão observados, nos ensaios posteriores, se há redução do colesterol ruim e a ação dos lipídeos. O pequi também possui proteínas, mas os lipídeos e as vitaminas A e E prevalecem.
Ainda há muito o que se fazer em relação a essas pesquisas. Segundo Glauberto, vários estudos ainda precisam ser feitos, com o isolamento das substâncias, para comprovações e posterior comercialização dos medicamentos. Pode levar até mais de uma década. Ele explica que todas as substância deverão ser testadas, uma a uma, para ver quais são os efeitos de todas elas. “Com isso, se chegará ao efeito potencializador de cada uma delas”.
SAIBA MAIS
Nativa
O Pequi é uma fruta nativa do cerrado brasileiro, muito utilizada na cozinha nordestina, do Centro-Oeste e norte de Minas Gerais. Dela é extraido um óleo denominado em outras áreas como azeite de pequi. Seus frutos são também consumidos cozidos, puros ou juntamente com arroz e frango
Peculiaridades
Seu caroço é dotado de muitos espinhos, e há necessidade de muito cuidado ao roer o fruto, evitando cravar nele os dentes, o que pode causar sérios ferimentos nas gengivas. O sabor e o aroma dos frutos são muito peculiares. Pode ser conservado tanto em essência quanto em conserva
Localização
A Árvore do pequi pode ser encontrada em diversas regiões do País como Nordeste e Centro-Oeste
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