No segundo semestre, época de maré brava, tem sempre uma ressaca maior que leva embora um pedaço de areia. Vários fatores explicam como o fenômeno natural ganhou proporções tão grandes. Todos têm uma coisa em comum: a mão do homem
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Até o início do século XX, Fortaleza dava as costas para o mar. A orla, margeada por dunas e amplas faixas de areia, tinha extensos coqueirais e áreas de mangue livres da ocupação. Os ventos e as correntes marítimas garantiam o equilíbrio do litoral. Vinham as ressacas, seguindo a tendência natural de avanço e recuo do mar, mas a faixa de praia estava sempre a salvo. Nada parecido com o que se vê hoje. Em alguns trechos já não existe faixa de areia. Paredões de rocha se estendem por quilômetros. Não dá mais para tomar banho de mar em alguns locais. Falta acesso. A água cobriu plantações de bananeira, mercearias, casas e ruas inteiras ao longo do litoral cearense e ameaça derrubar outras construções a cada nova ressaca.
A mudança radical veio com a instalação do Porto do Mucuripe, iniciada em 1939. "O recuo da linha de costa sempre existiu no Estado como fenômeno natural, mas passou a se mostrar mais freqüente a partir da construção do porto", diz Arilo Veras, coordenador do Conselho de Proteção Ambiental do Ceará. Tentando administrar os impactos provocados pela abertura do cais, uma sucessão de intervenções alterou toda a dinâmica de transporte e alimentação das praias na Capital, o que em pouco tempo alcançou municípios vizinhos. O porto acabou virando bode expiatório na história da degradação da orla, mas outros fatores tiveram o mesmo impacto negativo. A destruição das dunas, por exemplo.
Dunas
A cidade que tinha um paredão de areia em toda costa, só poupou as de Sabiaguaba, transformadas em Área de Proteção Ambiental pela Prefeitura em 2006. O resto foi ocupado e asfaltado. "O porto é uma porcentagem do equilíbrio do transporte litorâneo de sedimentos, mas não se pode desprezar o poder do vento", afirma Erasmo Pitombeira, doutor em engenharia hidráulica e atual presidente do Porto do Pecém. Sem dunas e com faixas de areia reduzidas, a contribuição da deriva eólica na composição da praia passa a ser pouco significante. Há razões naturais também. A topografia pode ajudar a proteger ou acelerar o avanço da linha do mar.
"Em praias com plataforma rasa, aquelas onde a água bate no joelho até uns seis metros dentro do mar, a ação das marés é menor", explica Arilo Veras. Mas é a mão do homem a maior responsável pela instabilidade das linhas costeiras. O que se vê hoje é conseqüência da ocupação das faixas de praia, que explodiu na segunda metade do século XX. "A natureza dá respostas a esse processo", diz Raimundo Félix, coordenador do Projeto Orla da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Controle Urbano (Semam). Para Erasmo Pitombeira, os impactos maiores são de ações locais. Obras e intervenções feitas no próprio Estado.
"Na escala temporal, o degelo das calotas polares e o aquecimento global, são recentes. Não chegam a criar problemas aqui. Pelo menos não ainda", afirma. O que têm em comum o desaparecimento da praia do Pacheco, a voracidade das ondas na vizinha Icaraí e o progressivo sumiço da praia da Caponga, é a ocupação equivocada da orla. "O mar muda. Está lá dentro, depois de anos vem para fora, volta de novo. O que não se deve é deixar ocupar esse espaço", defende Pitombeira. Nisso, todos os especialistas concordam. "As pessoas não querem uma casa de praia, querem na praia. Não pode", diz Luis Parente, diretor do Labomar, Instituto de Ciências do Mar, ligado à Universidade Federal do Ceará (UFC).
O problema não é exclusividade nossa. Em toda costa do País, há pontos acuados pelo avanço do mar. No início do mês, coordenadores do projeto orla de diferentes cidades do Brasil se reuniram para trocar experiências. Praias no Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Rio de Janeiro, Espírito Santo e São Paulo estão ameaçadas pelo avanço do mar. A tecnologia de contenção de marés pode resolver quase todos os problemas, mas a intervenção que resguarda uma determinada praia vai mexer com a dinâmica das praias vizinhas. Além disso, as obras são sempre milionárias. O mar está ganhando a briga.
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Até o início do século XX, Fortaleza dava as costas para o mar. A orla, margeada por dunas e amplas faixas de areia, tinha extensos coqueirais e áreas de mangue livres da ocupação. Os ventos e as correntes marítimas garantiam o equilíbrio do litoral. Vinham as ressacas, seguindo a tendência natural de avanço e recuo do mar, mas a faixa de praia estava sempre a salvo. Nada parecido com o que se vê hoje. Em alguns trechos já não existe faixa de areia. Paredões de rocha se estendem por quilômetros. Não dá mais para tomar banho de mar em alguns locais. Falta acesso. A água cobriu plantações de bananeira, mercearias, casas e ruas inteiras ao longo do litoral cearense e ameaça derrubar outras construções a cada nova ressaca.
A mudança radical veio com a instalação do Porto do Mucuripe, iniciada em 1939. "O recuo da linha de costa sempre existiu no Estado como fenômeno natural, mas passou a se mostrar mais freqüente a partir da construção do porto", diz Arilo Veras, coordenador do Conselho de Proteção Ambiental do Ceará. Tentando administrar os impactos provocados pela abertura do cais, uma sucessão de intervenções alterou toda a dinâmica de transporte e alimentação das praias na Capital, o que em pouco tempo alcançou municípios vizinhos. O porto acabou virando bode expiatório na história da degradação da orla, mas outros fatores tiveram o mesmo impacto negativo. A destruição das dunas, por exemplo.
Dunas
A cidade que tinha um paredão de areia em toda costa, só poupou as de Sabiaguaba, transformadas em Área de Proteção Ambiental pela Prefeitura em 2006. O resto foi ocupado e asfaltado. "O porto é uma porcentagem do equilíbrio do transporte litorâneo de sedimentos, mas não se pode desprezar o poder do vento", afirma Erasmo Pitombeira, doutor em engenharia hidráulica e atual presidente do Porto do Pecém. Sem dunas e com faixas de areia reduzidas, a contribuição da deriva eólica na composição da praia passa a ser pouco significante. Há razões naturais também. A topografia pode ajudar a proteger ou acelerar o avanço da linha do mar.
"Em praias com plataforma rasa, aquelas onde a água bate no joelho até uns seis metros dentro do mar, a ação das marés é menor", explica Arilo Veras. Mas é a mão do homem a maior responsável pela instabilidade das linhas costeiras. O que se vê hoje é conseqüência da ocupação das faixas de praia, que explodiu na segunda metade do século XX. "A natureza dá respostas a esse processo", diz Raimundo Félix, coordenador do Projeto Orla da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Controle Urbano (Semam). Para Erasmo Pitombeira, os impactos maiores são de ações locais. Obras e intervenções feitas no próprio Estado.
"Na escala temporal, o degelo das calotas polares e o aquecimento global, são recentes. Não chegam a criar problemas aqui. Pelo menos não ainda", afirma. O que têm em comum o desaparecimento da praia do Pacheco, a voracidade das ondas na vizinha Icaraí e o progressivo sumiço da praia da Caponga, é a ocupação equivocada da orla. "O mar muda. Está lá dentro, depois de anos vem para fora, volta de novo. O que não se deve é deixar ocupar esse espaço", defende Pitombeira. Nisso, todos os especialistas concordam. "As pessoas não querem uma casa de praia, querem na praia. Não pode", diz Luis Parente, diretor do Labomar, Instituto de Ciências do Mar, ligado à Universidade Federal do Ceará (UFC).
O problema não é exclusividade nossa. Em toda costa do País, há pontos acuados pelo avanço do mar. No início do mês, coordenadores do projeto orla de diferentes cidades do Brasil se reuniram para trocar experiências. Praias no Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Rio de Janeiro, Espírito Santo e São Paulo estão ameaçadas pelo avanço do mar. A tecnologia de contenção de marés pode resolver quase todos os problemas, mas a intervenção que resguarda uma determinada praia vai mexer com a dinâmica das praias vizinhas. Além disso, as obras são sempre milionárias. O mar está ganhando a briga.
Um comentário:
Educação,informação e conhecimento são prioridades,seu blog é excelente e possui essas caracteristicas importante que são prioridades na formação de um ser. Você está de parabens e continue assim perceverante ,educador,integro e imparcial.
EM 2010 FAREMOS A DIFERENÇA.
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